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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O Mistério de Annamara - Parte II


Na manhã fria de uma cidadezinha do Canadá, todos os moradores permaneciam em suas casas. Domingo não era um dia de muita receptividade, ainda mais em um lugar tão congelante. Jo Anne já havia acordado, e estava à espera de seu marido Rob que todos os dias volta de seu emprego pela manhã, já que seu turno era de madrugada. Ele cuidava de uma fábrica, e na noite anterior foi seu primeiro dia, o salário era muito bom, e eles tinham dois filhos para criar, e Rob ainda tomava conta de sua mãe doente e viúva, portanto foi uma grande oportunidade.
  • Mãe – Disse Noah de dezenove anos – Cadê o pai?
  • Não sei querido, pega as xícaras para mim por favor e as coloque na mesa. Sabe, seu pai anda muito esgotado com essa procura de trabalho, ainda bem que encontrou esse, o salário é muito bom, creio que agora você poderá fazer a faculdade que tanto queria.
Noah pega as xícaras na cozinha e as coloca sobre a mesa:
  • Sabe, acho que vou fazer arquitetura, sempre fui fascinado por construções, principalmente as antigas, aquelas casas com desenhos de décadas passadas, inscrições em latim, essas coisas... é totalmente o meu ramo.
  • Fico feliz em saber que gostar muito e se empanha nisso, querido liga a televisão, vamos assistir algo enquanto a sua irmã não acorda, ai não teremos mais paz – risos.
O menino obedece o pedido de sua mãe, liga a televisão e se depara com uma notícia de algo que está acontecendo em sua cidade.
  • Mãe! Vem aqui rápido, vem ver! Estão falando de algo na nossa cidade!
A mãe se aproxima, colocando o pano de prato no braço do sofá, e seu coração já estava disparado enquanto lia toda a manchete no rodapé da tv.
Cozinheira da fábrica Weg relata sumiço de vigilante durante essa madrugada.”
  • Aumenta, aumenta esse volume! - Disse Jo Anne.
E o repórter com ar de suspense, parecendo adorar a notícia que estava dando, retrata com a maior voz de convicção:
- Durante esta madrugada, a polícia local recebeu um chamado vindo da maior fábrica da cidade, a Madeireira Weg, era a cozinheira, que relatava o sumiço de um vigia. Ela ainda afirmou que o viu durante a noite, após o alarme ser disparado por algum motivo que ela não tem conhecimento. Ficaremos agora com as palavras da empregada.
- Eu estava na cozinha, eram mais de meia noite, o alarme soou, eu me assustei, mas permaneci na cozinha, pois sei que verificar o que houve não faz parte do meu trabalho. Logo após isso o vigia apareceu pela cozinha, parecendo muito assustado com o soar do alarme, creio que iria pegar um copo de água. - Disse a cozinheira.
- A senhora crê? Então o que de fato Rob Sanders foi fazer na cozinha se não bebeu o tal copo de água? E... creio que seu turno já havia acabado quando o fato aconteceu, não?
- Sim, meu turno já havia acabado, mas moro nos fundos da fábrica, e tive sede, e vim beber água. Não posso adivinhar o motivo pelo qual Rob apareceu na cozinha, creio que com o susto quis beber água, e não bebeu porque levou outro susto, ao me ver por lá.
  • Muito... obrigada Dona Matilde, falaremos agora com o dono da Madeireira, senhor Joy. Bom dia senhor Joy, pode nos contar o que aconteceu esta madrugada?
    - Bem, não sei se posso ajudar muito, pois quando o vigilante da noite chegou, dei meu telefone para caso ele precisasse de algo, uma pistola e uma lanterna, como de costume, tirei algumas dúvidas do rapaz, e logo fui embora. A empresa que monitora a fábrica, mandou um alerta assim que o alarme soou, e logo vim parar aqui, já não encontrei Rob, nem a lanterna e.. nem a arma. Corri procurar Dona Matilde, que se encontrava em seus aposentos, nos fundos da fábrica, ela parecia com sono, não sabendo de nada. Contou- me que sim, ouviu o alarme, mas Rob foi logo a cozinha, lhe dizer que já havia verificado tudo, e não encontrado nada, ela crê que ele deveria ter voltado para sua guarita.. deveria. “
    Após Jo Anne ouvir esses relatos, ela desmaia...
    - Jo Anne? … Você está no hospital, se recuperando de um desmaio, por favor.. abra os olhos, já está acordando!
  • Quem é você? - Diz a pobre mulher ainda muito confusa, esfregando seus olhos, parecendo incomodada com a luz que entrava pela janela de seu leito.
  • Sou o investigador desse condado, e atendendo aos pedidos do xerife, vim aqui procurar seu marido.. quero dizer, encontrá- lo. Meu nome é Bradford.
  • Por favor senhor, preciso que o encontre, temos dois filhos para criar! Aliás aonde estão meus filhos, aonde estão Noah e Gracy?
  • Fique calma, enquanto tudo isso não acabar, eles vão estar a salvo com a assistente social! Mas agora, preciso que me responda algumas questões!
  • Creio que não posso ajudar, eu não sei de nada do que aconteceu, ele saiu para trabalhar e não voltou. Ah meu Deus!
  • Mantenha a calma por favor, sempre deixamos escapar alguns detalhes, vou pedir depoimento de todos os envolvidos, você, Dona Matilde e o dono da fábrica, senhor Joy.
    […]
  • Bem... aqui estamos, no meu gabinete, agora... deve me contar como foi a última conversa de vocês?
  • Bem senhor Brad .. Bradford certo? Ele não quis jantar conosco noite passada, porque disse que já estava atrasado para seu turno, e ele realmente queria esse emprego, nosso filho mais velho quer entrar na faculdade e.. Rob é um marido muito bom!
  • E só isso? Ele não ligou para senhora durante a noite? Mais nenhum contato?
  • Nenhum senhor!
  • Okay, muito obrigada, vou colher os depoimentos dos dois que te falei, logo ligo lhe contando as novidades.
    O investigador anota algumas palavras em sua agenda particular, logo pede pra entrar em sua sala, Dona Matilde.
  • Bom dia, queira se sentar por favor.
  • Obrigada – disse Dona Matilde um pouco desconfiada, e com cautela olhando para todos os lados.
  • A senhora parece um pouco perturbada, e a vi no noticiário, parecia menos nervosa do que agora.
  • Mas é claro, vi que o dia está passando e vocês não encontram o vigia, está ficando sério isso.
  • Creio que isso já ficou sério desde o momento que ele sumiu. Conte- me, quando deu conta de que ele não estava mais na guarita? Alias, para a senhora saber disso, quer dizer que esteve na guarita dele depois do seu turno, por que?
  • Bem.. é que.. - aparentemente confusa – Ele.. Quando soou o alarme, eu estava na cozinha, bebendo água, logo depois Rob apareceu, um pouco assustado, creio que pelo som alto do alarme. Ele me disse que não encontrou nada, e voltou de onde veio, acho que da guarita... Mas como eu disse para no jornal, mais cedo, ele deve ter ido na cozinha para beber água, porque levou um grande susto com esse alarme, e acho que não esperava me ver por lá, por isso creio que esquecer de pegar sua água... Foi aí que tive a idéia então, de pegar um copo de água para ele, levei na guarita, mas ele já não estava mais lá. Liguei la do telefona da garita mesmo, para a polícia, quando coloquei o telefone no gancho, Senhor Joy chegou porque foi avisado do alarme e só.
  • Entendo... que bondosa a senhora querer ajudar Rob – disse em tom irônico. Bem, e porquê a senhora mora nos fundos da fábrica, sendo que os outros empregados não?
  • Assim que a fábrica foi aberta, eu logo entrei como cozinheira, alias sou a primeira empregada daquele local, e foi um acordo com o senhor Joy!
  • Acordo?
  • Sim.. é.. eu morava em um lugar ruim, então para facilitar me deixou ficar na edícula da fábrica, nos fundos.
  • Entendi, acabamos por aqui... é.. seu nome, é Matilde do que?
  • Meu nome? Matilde.. Williams, isso, Matilde Williams
  • Ok, muito obrigada.
    Bradford investigou o senhor Joy, que não tinha muito a acrescentar, e mais algumas testemunhas que disseram terem ouvido o alarme, mas nada foi mais relevante, do que a dona Matilde.
    […]
    O caso tinha esfriado, já se passavam um ano e dois meses desde o dia que Rob Sanders havia sumido, até que como uma uma mensagem divina, o faz pensar na casa bizarra que havia na frente da fábrica. Ele se lembrava de quando teve que resolver um caso de assassinato há muito tempo atrás, no começo de sua carreira, e mesmo sem ter explicações, resolve ir na casa, ao menos para reviver aquele momento.
    Já na frente da porta principal da casa, observa aquela assustado gárgula que tinha ali, que faz passar um flashback por sua cabeça, o fez lembrar do assassinato da pequena Annamara, que foi esfaqueada por seu próprio pai, por engano enquanto ele tentava acertar o bandido que havia invadido sua casa. Ele sobe pelos degraus sombrios e úmidos da casa velha, chegando assim ao andar superior, e é aqui que nota algo estranho.
    No carpete velho, havia uma pegada, de sapato masculino, que ele não se lembrava de ter na época do crime, e percebe de cara de a casa foi invadida após o assassinato. A pegada leva em direção ao quarto da garotinha, pra onde ele então se dirige, e realmente não esperava ver o que viria por ai.
    Uma lanterna e uma arma estavam jogadas no chão, e ainda não estavam empoeiradas, o que significava que não fazia muito tempo que estavam ali. Logo depois, uma faca antiga, com vestígios de sangue que a perícia deve ter deixado de investigar, esquecendo- a próxima do carpete. E logo Bradford lembra que no noticiário, senhor Joy disse que antes de sair, apenas o entregou uma lanterna e uma arma, caso o vigia precisasse... as peças começavam a se juntar agora.
    […]
    O investigador resolve pesquisar por toda a papelada da fábrica, desde compras antigas, donos antigos, até o nome dos empregados, e o mais sinistro, foi quando encontrou que a primeira cozinheira, se chamava “ Matilde Weg”, que é o sobrenome do dono da fábrica Joy Weg. O fato era que Brad acabara de descobrir que a cozinheira Dona Matilde era casada com o dono da empresa, senhor Joy.
    Mas as incertezas não acabavam por ai, pois isso não explicaria porquê ele não a tratar como esposa e nem porquê de ela trabalha para o seu próprio marido como cozinheira. Resolveu portanto colher novos depoimentos.
    […]
  • Dona Matilde Williams certo?
  • Certo..
  • Errado! Matilde Weg é seu nome, mulher de de Joy Weg, o dono da fábrica, agora conte o que sabe!
  • Ah.. ah meu Deus! Como … como descobriu isso? Tudo bem.. eu... eu vou contar.
  • Ótimo.
  • Em 1945, houve um assassinato no casarão da frente. O senhor sabe, pois foi o senhor mesmo que investigou... Joy, meu marido.. e eu, estávamos dormindo quando escutamos um barulho na casa, eu o acordei, e ele foi ao quarto de nossa filha Annamara, depois disso só escutei os gritos dela, e o resto foi só o que saiu nos noticiários.. que ele a esfaqueou sem querer, enquanto tentava matar um ladrão. A questão, é que após isso ele nunca foi o mesmo. Acabou sendo inocentado, e abriu a fábrica e ai.. nos separamos.. mas não oficialmente. Eu pedi para que me deixasse trabalhar na cozinha, pois sabia os gostos dele, e queria cuidar dele, mas ele parecia muito perturbado.
  • Entendi perfeitamente.. mas quando sua filha morreu... Não me parece convencida de que seu marido a matou sem querer!
  • Odeio ter que pensar assim, mas ele naqueles tempos, ele andava muito transtornado com a nossa filha, ela acordava de madrugada, andava pela casa falando sozinha, e dizia sempre estar em companhia.. de alguém.
  • Alguém? Que alguém?
  • Alguém que nós.. não.. podemos ver. Joy dizia que ela tinha problemas, e que deveríamos interná-la, mas eu não aceitava, dizia que tudo isso só iria piorar a sanidade mental de minha filha.
  • Então acha que por stresse ele a matou? Para não a ver fazer essas coisas malucas?
  • É aí que eu não sei, prefiro acreditar no fato de que ele a matou sem querer, mas meu coração não concorda com isso.
  • Mas então, encontrei a lanterna e a arma do vigia Rob Sanders em sua antiga casa, ele esteve lá, e algo o levou , pra algum lugar.
  • Ahh minha nossa! - Disse Dona Matilde chorando. A velha mulher se levantou e correndo foi embora o mais rápido que conseguiu. Bradford, sem entender nada, resolve tirar suas dúvidas com Joy.
    […]
  • Senhor Joy... quero dizer que já conversei com sua... esposa, dona Matilde Weg, que me contou tudo... Agora quero saber de você, conte- me como tudo aconteceu no assassinato de sua filha em 1945?
  • Ah Deus! .. Como o senhor desco... Mas espera, o que isso tem a ver com o Rob Sanders?
  • O senhor realmente não sabe? A lanterna e a arma dele foram encontrados no quarto de sua filha, na sua antiga casa.
  • Na minha antiga casa? E o que ele foi fazer lá?
  • É exatamente isso que eu quero saber. Mas para saber o futuro, preciso que me conte o passado.
  • Tudo bem... Era 13 de Janeiro de 1945, uma noite fria e muito nublada, escutei passos pela casa e... minha esposa me acordou para que eu fosse ver o que estava acontecendo. Eu levantei, peguei uma faca que guardava sempre em minha mesa de cabeceira e fui conferir. O barulho vinha do quarto da minha filha, Annamara. Quando entrei, vi um ladrão, fui o atingir e ele colocou minha filha na frente, não consegui parar o impulso no meu braço a acabei atingindo minha filha.
  • Parte dessa história não está certa, pois a faca que o senhor a matou, a perícia encontrou, claro... e foi assim que desvendamos o crime, porém, fui a casa novamente, e uma faca antiga e ensangüentada estava la, e é da mesmo época, faz parte desse crime. Mais alguém estava segurando essa faca, e pelo o que me lembre o senhor saiu ferido. Mas como se machucou se o bandido nem o atacou? E quem estava com essa faca? O senhor não quer me contar, mas sua esposa me disse que Annamara tinha problemas mentais, e o senhor já estava muito aturdido com o que ela fazia, vagava pela casa de noite, falava sozinha com um... alguém, alguém que vocês não enxergavam. Anda, conte- me, essa faca estava na mão de Annamara não era? Foi ela que o atingiu primeiro, e em seguida você a acertou!
  • Por favor – disse Joy aos prantos – Eu não sei o que deu na cabeça de minha filha, ela tinha esses problemas mas nunca fora agressiva, mas aquele dia... eu vi o ódio em seus olhos, eu não tive outra escolha, eu entrei em seu quarto, e ela me acertou... Eu só queria que ela parasse, então a acertei também, mas com isso ela faleceu, e me sinto mal por tudo isso até hoje.
  • O senhor realmente acha que ela tinha problemas mentais, ou... algo a mais a perturbava? Como... esse alguém que ela dizia ver?
  • Eu... sinceramente senhor, acredito que tenha algo a mais nisso, só que o senhor não deve voltar naquela casa!
  • Isso é uma ameaça?
  • Não senhor! É um aviso amigo, tem algo lá, algo que levou minha filha, e algo que atrai todos os vigias que contrato, eles sempre acabam sumindo, e tenho algum envolvimento com minha casa, permaneça longe e ficará a salvo.
    Mas já era tarde demais, o mistério de Annamara morreu com ela, assim como Bradford que sumiu horas depois, e virou apenas mais uma estatística.